O encontro anarquista no Parque do Jabaquara em 1935

Diversos eventos históricos ocorreram no Jabaquara em sua época que ainda era um parque, temos um exemplo de uma comemoração sobre a guerra do Tuiuti, que foi a maior e mais sangrenta batalha campal de toda a Guerra do Paraguai e do continente sul-americano, por ter envolvido mais de 55 mil homens.

Algumas fotos abaixo desse encontro, que ocorreu em 1914:

Antes de falarmos sobre o assunto do post, se você, assim como eu não é familiarizado com religião, vamos trazer o significado da palavra ‘Anticlericalismo’:

Significado de Anticlericalismo

Em resumo, é um movimento que é contra a influencia de uma figura religiosa (como por exemplo, o Papa) pois o ativista anticlerical critica a ação política das instituições religiosas, ou seja, é contra o clericalismo.

Significado de Clericalismo

Em 1901 surge um periódico chamado ‘A Lanterna’, dirigido por Benjamim Motta, este periódico se denominava um ‘Jornal de combate ao clericalismo’, era considerado um periódico Anarquista.

A Lanterna surge como um jornal alternativo, não por ser um jornal de ideários anarquista, aliás, no pós-golpe de 30 havia intensa produção de jornais anarquistas, mas como um instrumento social, em nenhum dos seus 48 exemplares existe um artigo se quer falando sobre ou do governo de Getúlio Vargas, seu foco e visão anárquica concentram-se na Influência da Igreja Católica no Estado e na sociedade. Foi principalmente, mas não somente, um porta voz das ligas anti-clericais que haviam por todo o pais.

Convite para participar do encontro no Jabaquara.

E justamente este jornal organizou um grande evento no Parque do Jabaquara em 15 de Junho de 1935, que vamos resgatar abaixo:

Histórica foto do encontro do Jornal, na legenda: ” Um grupo apanhado pelo companheiro Miguel D’Ângelo, durante o festival. “

O texto abaixo foi retirado do artigo do periódico, lembrando que isso não expressa nenhuma opinião representada pelo Foco No Jardim Miriam, estamos relatando isso justamente para uma recuperação histórica de toda região.

Na íntegra, o texto detalhando sobre o encontro abaixo:

Título do Periódico com a matéria sobre o encontro.

Não obstante a deficiência dos meios de propaganda e do pouco tempo de que dispomos para nos podermos dedicar á organização de um ato como o de domingo, no Parque Jabaquara, tivemos a grata constatação de que o nosso jornal goza cada vez maiores e mais expressivas simpatias em ter no seu programa de combate ao clericalismo.

Um numero calculado em 2.000 pessoas, apesar de, nesse mesmo dia, se efetuarem outros festivais e excursões de elementos liberais que aumentariam, naturalmente, e em muito, esse numero, acorreu ao Parque Jabaquara e viveu horas da mais perfeita harmonia.

Centenas de crianças davam alegre expansão aos seus movimentos livres, gozando as delicias de estar em contacto com a natureza e manifestando, na plenitude dos seus movimentos, os princípios de uma educação que está muito longe de se parecer com o sapato chinês da educação clerical com que a igreja, á custa de dogmas, incenso, e ladainhas, empaca a mentalidade infantil, fazendo da criança o “anjo” bobinho de uma estúpida moral de hipocrisia e ignorância.

A alegria se manifestava em todos os rostos, os sentimentos da mais perfeita comunhão de idéias e pensamentos transparecia nessa alegria comunicativa das grandes causas.

Sem o mais leve atrito, dispensando mesmo a presença dos “mantenedores” da ordem, cuja ausência, em todos os nossos atos de propaganda, denuncia perfeitamente a certeza de que a ordem não seria perturbada, revelando, assim, a existência de uma responsabilidade moral que se basta a si mesma, o programa do festival se desenvolveu dentro da mais perfeita ordem.

Desenho irônico sobre o Papa.

Logo ao romper do dia, as alamedas do parque se enchiam dessa alegria festiva, confundindo-se o rumor de passos femininos, ao lado de seus companheiros, que passeavam, aspirando o ar puro do ambiente, e a garrulice das crianças que saltavam, corriam, gritavam, viviam, afinal, a vida sã das nossas concepções ideais da liberdade.

Em tomo do Caminho para o céu…, um dos divertimentos com que a comissão organizadora abrilhantou os festejos, disputando os prêmios constantes de livros, doces, etc, viam-se numerosos concorrentes que teimavam em querer alcançar o fim desse caminho fantasioso com que os padrécas enchem a mente dos papalvos que exploram…

O padre montou no porco, outro divertimento original, foi também de grande sucesso.

Marcos Cortes disse algumas anedotas anticlericais, o menino Alipio Branco recitou, e o companheiro Dionisio declamou “O Papão”, De Guerra Junqueiro.

Por falta de tempo, não foi possível a execução de alguns números do programa, como as representações cômicas do trio De La Luna, Marcos, Chiarelli, que ficaram para nova oportunidade.

D. Luisa Pessanha Branco, convidada para fazer uma palestra, foi ouvida com significativa atenção, iniciando a hora literária.
Falou também, e agradou bastante, pelo tom chistoso que deu á sua preleção, o companheiro, José Arantes Argamim, representante do Sindicato dos Alfaiates. O companheiro Atilio Pessagno, representando a Liga Anticlerical de Campinas, fez também, num improviso, uma entusiástica saudação á “A Lanterna”, concitando os anticlericais á luta sem tréguas contra o domínio do Vaticano.

Por outro lado, ao som de uma banda de musica, aqueles que apreciam a dansa entregavam-se com entusiasmo a esse divertimento.

E mais uma vez, pese embora isto aos sacristas, o S. Pedro das suas fantasias deixou cair as bênçãos de um belíssimo dia, guardando, para abri-las no dia seguinte, as torneiras do céu e mandando aos lantcrneiros as graças de um sol benéfico, talvez com pena de perturbar a paz dos inimigos da padralhada…

O Jornal completo sobre o assunto acima.

Este foi o texto detalhando mais sobre o encontro do movimento no local, curioso ou não, diversos outros eventos também ocorreram no Parque do Jabaquara e que vamos trazer todos possíveis com nossas pesquisas aqui no Foco no Jardim Miriam!